O cenário foi muito negativo para o setor citrícola durante a Segunda Guerra Mundial, agravado pela “Tristeza”, doença que dizimou muitos pomares até meados de 1940.
Dadas as circunstancias meu pai resolveu comprar gado em Mato Grosso para engordar em São Pedro, Santa Maria da Serra e em Limeira, onde alugava os pastos do Sr. Tomás DeLuca, proprietário da Fazenda Botafogo, situada em Limeira.
Durante a guerra, por ser italiano, o citado senhor teve seus bens congelados pelo banco. Em 1945, aconselhado pelo próprio Tomás de Luca, meu pai, em sociedade com Manoel Pires Lopes, arrematou a fazenda em leilão. Sempre de olho na laranja, João Senra mantinha contato com os técnicos da Estação Experimental de Cordeirópolis, especialmente com o Dr. Sylvio Moreira, pesquisador que descobriu que a causa da Tristeza dos Citrus era devida ao porta-enxerto utilizado na época.
Meu pai resolveu se antecipar, formando um grande viveiro, observando técnicas experimentadas com porta-enxerto imune à citada doença, plantio em curvas de nível e aplicação de calcário para corrigir o pH do solo. Técnicas inovadoras para a época.
Os vizinhos e conhecidos comentavam que ele estava louco, porque o que restava de laranja estava caindo dos pés doentes e, além disso, João Senra plantava pomares não alinhados, ou melhor, em curvas de nível, o que era uma novidade na região. Ele também foi o pioneiro a utilizar calcário para corrigir o Ph do solo. Com esse exemplo, houve uma grande expansão na venda de calcário do amigo Abílio Pedro.
O grande pomar da Botafogo saiu na frente, com safras gigantes, altamente cobiçadas pelos exportadores e produtores de suco de laranja.
Os compradores calculavam a safra em número de caixas e percorriam os pomares para saber o quanto poderiam oferecer para adquiri-la e, ao mesmo tempo, preocupavam-se em não perdê-la para os concorrentes. Meu pai tinha um burro branco que utilizava sempre como montaria e o cedia aos compradores para avaliar a safra.
Nessa época, com essa quase exclusividade, com um pomar grande, altamente disputado, meu pai representava a citricultura brasileira na “FARESP” hoje “FAESP”, em São Paulo e viajava frequentemente ao Rio de Janeiro, acompanhado pelo Henrique Jacobs e Manoel Rodrigues, para pleitear melhores câmbios para exportação de citros. Em Limeira, ele foi presidente da Associação Rural e esteve sempre presente nas comissões e presidência das festas da laranja, lembradas como grandes eventos, com o comparecimento de governadores de estado, secretários da agricultura e outras autoridades e técnicos.
Nessas ocasiões, eram escolhidos e premiados os melhores pomares e os melhores exemplares de frutas cítricas, apresentados no local da festa. Em uma dessas oportunidades, João Senra e Manoel Pires Lopes receberam o 1ºPrêmio, pelo maior e melhor pomar do Estado de São Paulo.
Geraldo Hasse e outros especialistas no ramo afirmaram que a Botafogo, situada no município de Limeira, chegou a ser, na década de 1950, a maior fazenda de laranja do Brasil, com duzentas mil árvores. Ela serviu de referência para os primeiros levantamentos de custo de produção cítrica, empreendidos pela Secretaria da Agricultura de São Paulo.
Por Lillian T. Senra Siqueira